O valor do brincar livre no desenvolvimento do pensar da criança
10 dicas para brincar com o seu filho | O brincar é a primeira e talvez a mais importante forma dos nossos filhos aprenderem. A maioria das crianças brinca e explora livremente, outras poderão precisar de apoio. Alguns momentos são mais difíceis na vida das famílias e nessas situações os pais podem encontrar no brincar uma janela de oportunidades para desenvolver relações, fortalecer competências e ultrapassar dificuldades emocionais. A Psicologia através da Neuroeducação pode contribuir para o reforço das competências dos pais com orientações para promover momentos de brincadeira que sustentem o desenvolvimento infantil. O objetivo destas 10 dicas para brincar com o seu filho é partilhar com pais e educadores os aspetos que, em consultório, são determinantes para o fluir do brincar verdadeiramente estruturante da personalidade do seu filho.
É inequívoco que brincar é a atividade principal das crianças pequenas e que o brincar se constitui uma das formas mais importantes de comunicação. Grande parte dos adultos é capaz de expressar sob a forma verbal os seus sentimentos, frustrações e angústias; no entanto, a criança, decorrente do processo de estruturação cerebral inerente ao desenvolvimento, ainda não dispõe dessa capacidade, pelo que utiliza os brinquedos como palavras. Podemos mesmo dizer que quando a criança brinca, o seu ser está totalmente presente. O contexto da brincadeira, com todos os seus conteúdos, simbolismos e sinergias, é de tal forma rico em autenticidade que permite o emergir do Eu da criança, sobretudo quando se trata do brincar livre.
Quando brinca, a criança relaciona-se consigo própria, com os outros e com o mundo que a rodeia. Entende-se então que o brincar é realmente uma forma de atividade complexa, que envolve a criança física, mental, social e emocionalmente. No brincar, a criança manifesta e expressa os seus desejos, receios, perceção de si própria, entre outros. É também através do brincar que a criança conhece o mundo e ensaia comportamentos, conhece as pessoas, as relações e regras sociais. Além de fonte de prazer, o brincar é simultaneamente fonte de conhecimento. No brincar a criança pode imitar o adulto, pode expressar conflitos, revelando os seus sentimentos, experiências e reações a essas mesmas experiências.
Esta experiência relacional na infância é o fundamento para o desenvolvimento da autoconsciência e da personalidade, das atitudes em relação ao mundo e a procura do seu lugar nesse mundo. O brincar tão fundamental no “aqui e agora” influencia as noções do presente, mas ajuda também a reformular interpretações de situações do passado e projeta-se ainda no futuro com as perspectivas de vida. Sabemos que a autoconsciência e a perceção do mundo envolvente estão profundamente ligados ao bem-estar psicológico, à auto-realização e à satisfação da vida da criança.
Podemos alcançar um melhor desenvolvimento da consciência da criança através do brincar livre se atendermos a alguns aspetos importantes. Nem o brincar nem a consciência são inatos ou espontâneos. Pelo contrário, o brincar é uma construção, semelhante a todas as outras possibilidades humanas, o que significa que pode influenciar o bem-estar psicológico ao criar diferentes possibilidades de desenvolvimento e de apropriação do mundo envolvente. Então, quando brincar com o seu filho, envolva-se e dê de si seguindo estas dicas:
- Aguarde pela iniciativa da criança – SABER ESPERAR
- Siga o cenário proposto – A HISTÓRIA
- Envolva-se à medida que acontece, ponha do seu, faça o seu papel – UM CERTO DIÁLOGO
- Expresse as suas emoções, o impacto das situações, co-responda – CRIAR CUMPLICIDADE
- Faça pontualmente de narrador – REFLETIR SOBRE O ACONTECER
- As únicas regras: não se magoar, não magoar os outros, não partir nada
- Ter cuidado com as interpretações (não acrescentar o que não está lá, expectativas, implícitos)
- Ter cuidado em não antecipar (afeta o movimento e ritmo do brincar)
- Não “ensinar a fazer”
- Brincar não é jogar (o jogo tem regras)
Com estas orientações procura-se tornar este momento de convívio pelo brincar propício a um intercâmbio espontâneo e com uma abordagem cautelosa da ressonância emocional e da fantasia individual.
Como pai, como mãe, não sou perfeito nem perfeita mas naquele momento consigo estar atento e ressonante, estar verdadeiramente junto, todo olhos, todo ouvidos, participante e em sintonia. No brincar, a imaginação domina, representam-se papéis, recriam-se situações, à semelhança do que a própria criança experimenta na realidade, situações agradáveis ou não. Quando a criança recria estas situações, fá-lo de uma forma que ela é capaz de suportar, não correndo riscos reais. Através do faz-de-conta, a criança traz para perto de si uma situação vivida, adaptando-a à sua realidade e necessidades emocionais.
Neste contexto específico do brincar a relação é segura, num ambiente de aceitação, empatia e compreensão, de forma a permitir que a criança possa expressar e explorar plenamente o seu Eu através do seu meio natural de comunicação – o brincar.
Brincar no aqui e agora, sem memória nem desejo, espelha a atitude aberta e disponível necessária a este exercício. Esqueça tudo o que sabe até então e deixe-se surpreender!
Nestes momentos tornar-se o companheiro de brincadeiras do seu filho é mostrar-lhe o mundo e trazer-lhe confiança no futuro!
Vamos, então, recapitular:
O brincar nasce de uma proposta de tempo juntos.
Na base, temos sempre uma atitude de amparo seguro e a cumplicidade.
No acontecer, temos a espera, o ritmo, o diálogo e a história
No dizer, temos o refletir em conjunto sobre o acontecer.
Divirta-se e encante-se com os seus filhos!